quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Então, represento-me.

Acordo completamente com um estalo. Manhã de pós-Natal. É como se você se desse conta de algo que uma outra parte de você quisesse lhe esconder. Mas, por quê? Por que alimentei estratégias e planos tão bobinhos enquanto o óbvio estava bem na minha frente? Ninguém me escondeu nada. Ninguém me fez esquecer. Fui eu. Eu não me coloquei a par de todos os fatos sobre a minha própria vida. E, se tudo ocorresse bem, eu perderia uma parte de mim. Contraditório, mas real. Eu perderia a melhor parte de mim. Aquela que me liberta, que me estravasa, que me deixa explodir. Se eu deixar de pisar alí, naquele meu santuário particular, não mais me perderei. E é bem ali, quando me perco de mim mesma, que realmente me encontro. E eu simplesmente não teria mais tempo para encontrar a mim mesma. Sete anos. Sete anos desde que realmente conheci a mulher que eu me destinei a ser. E, agora, suposições quase verdadeiras que me colocam longe desta quase estranha já conhecida.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Me censuro.

Não sei porquê. Me censuro para falar de você, para falar de nós para os outros. Sei lá, eu vejo e fico sabendo de tantos casais que a gente bate o olho e já pensa que vão ficar juntos por um longo tempo e, um tempo depois, terminam tudo e postam seus prantos em redes sociais, sendo que já até possuem outros alvos. Eu sei, com todo o meu eu, que não somos assim. E eu juro que não quero que sejamos. Para ser franca, eu vejo a gente como aqueles casais de velhinhos que caminham de mãos dadas até para ir à padaria. Eu resmungando por você me tirar de casa em pleno domingo de manhã só pra ir até a esquina e você rindo da minha cara de brava e me beijando a testa. Nunca foi assim com ninguém. Não desse jeito. De vez em quando, esse sentimento ainda me surpreende. Sabe, depois de algum tempo juntos, a gente se acostuma com as borboletas na barriga, a empolgação e tudo o mais que caracteriza o início de uma relação, e acaba por nem perceber mais essas coisas. Mas hoje mesmo, por exemplo, me peguei pensando em como nem eu mesma tenho a noção do quanto eu preciso de você do meu lado. Essa percepção fica mais forte em dias como este. Incrível como dois dias longe de você parecem uma eternidade. Uma eternidade sem poder sentir teu cheiro, te beijar, te abraçar a cada cinco minutos e reclamar porque, volta e meia, você acaba prestando mais atenção na TV do que em mim. Sim, uma longa eternidade, culpa da ausência. E na ausência você descobre intensidades desconhecidas, porém reconhecíveis do sentimento que se abriga no peito. Eu não sei exatamente o que foi que Deus utilizou quando me deu você de presente, não sei qual a essência que, misturada a esse amor, fez com que ele se fortificasse tanto. Mas eu sei que nada foi em vão. Minha história ao seu lado já começou perfeita. E tudo o que tivemos que enfrentar, por mais que tenha sido destrutivo em algum ponto da nossa trajetória, eu ainda acredito, nos fortificará de algum modo. Eu tive motivos para reconhecer que você é, apesar de tudo, um pedaço de mim. E que eu não posso mais viver sem esse meu pedaço. E o que venho assistido, ao longo de tantos meses, é um menino se transformando no homem da minha vida. Não somos perfeitos um para o outro, mas decidimos ser o melhor que pudermos. Por isso eu te peço que cuide de mim. Porque te amo. Eu te amo. Com todo o meu coração.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Bloqueio.

Sobre mim mesma, sobre as coisas que penso e que deveriam ser expressas. Existe um bloqueio que nunca permite que eu crie um reflexo exato de tudo que me preenche, que me transborda. Só o que consigo é conviver com fragmentos de mim, frutos da falta de intimidade que me acostumei a ter com o meu próprio sentir. Nunca obtive um espelho real das faíscas e turbilhões emotivos que acontecem aqui dentro com alguma forma de expressão. Sei que seria impossível, mas me dilacera o fato de não me enxergar, quase que por inteiro, em algo que eu mesma criei. É o fardo de se ter um coração artista ou, sejamos francos, arteiro. O que sinto e exponho hoje já pode ter me fugido amanhã, e assim por diante. Queria mergulhar mais fundo, queria que esse bloqueio estúpido me deixasse a sós comigo mesma. Só de vez em quando, não faz mal. Pois, com ele, eu acabo me acostumando a sustentar esse contraste entre o que aparento sentir e o que realmente sinto. Vivo entre estes extremos inabaláveis, me corroendo diante das minhas frustrações e encantos e, ao mesmo tempo, não me admitindo demonstrar cinquenta por cento do entusiasmo que sinto ou desabar completamente sob os meus pesares. E tenho necessidade disso. De chorar. De escancarar o riso. De demonstrar mais, não como um papel que me é dado, mas como eu mesma. De me deixar ser. Mas é culpa dele, desse bloqueio que, em algum momento quando comecei a me tornar mulher, assumiu as rédeas das minhas atitudes, pensando ser a fortaleza para mim. O que ele não sabe é que eu preciso da minha menina que tudo inventava e que tudo movia, que fazia tudo acontecer. E ela está aqui dentro ainda, em algum lugar de mim, pedindo que eu a deixe falar, que eu a deixe ser novamente.