quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Sensações

Por um momento, esqueci como se andava. Tive que parar alguns segundos para planejar cada movimento, antes de continuar a trilhar o trajeto que ainda me faltava. Também esqueci que precisava respirar, e tive que me concentrar para fazer movimentos suaves, me salvando do engasgo que aquelas lágrimas causaram. No fim da noite, senti uma mortandade tomar conta do meu corpo. Olhava para as luzes do lado de fora do vidro, como se fossem a última coisa que pudesse ver. As palavras só saíam da minha boca de maneira entrecortada, de modo que nem eu sabia exatamente o que estava tentando dizer. Todo aquele pânico me deixou um tanto quanto inconsciente, de um jeito que nunca senti na vida. Talvez uma vez. Mas agora, eu sabia que não estava tudo perdido. Eu sabia que havia alguma coisa pela qual deveria lutar com todas as garras, até o fim. Mas não conseguia me lembrar direito do que se tratava. Me perdi na minha própria confusão e na confusão de palavras estranhas que relatavam situações estranhas que nunca imaginei ter de enfrentar. O pavor acelerou meu coração, e me inundava o peito com pequenas convulsões. Eu não tinha mais forças, mas continuava. E continuo. Agora, antes de entrar, limpo o rosto e abro a porta, com a droga de um sorriso no rosto. Ao olhar no espelho, vejo dois olhos enormes, úmidos e escuros me fitando, claramente inchados, como se estivessem chorando há uma vida. Nenhum esforço apagaria essa imagem. Em volta deles, um rosto pálido, que deveria me soar familiar. Mas não, tudo o que vejo é de total estranheza. 

sábado, 30 de março de 2013

Necessidades


Hoje, pela primeira vez, me senti empolgada diante dessa jornada desconhecida na qual estou prestes a mergulhar. O que me deixa confusa, já que, de uns dias pra cá, o medo disso tudo também tem aumentado drasticamente. Me conhecendo o mínimo necessário, eu sabia que aconteceria assim: que com a aproximação do que me espera, o pavor sairia debaixo do tapete e eliminaria meu tão familiar estado anestésico-emocional. Fico feliz que alguma sensação boa tenha surgido nisso tudo, durante esses momentos em que fatos e circunstâncias insistem em deixar a minha convicção bamba. Mas, quanto mais a hora se aproxima, mais dúvidas começam a surgir e acho que isso é absolutamente normal. Ainda mais quando todos me lembram que a escolha é MINHA, que eu não TENHO necessariamente que ir. Mas eu quero. Ou não tenho certeza que quero, mas alguma coisa aqui dentro me diz que eu preciso ir e que me devo isso. Crescer. Ou sei lá, alguma necessidade desse gênero, provavelmente buscar coisas diferentes, novos horizontes. Então, mesmo morrendo de vontade de ficar, acho que devo ir e fazer algo diferente com a minha vida. Ter experiências que façam a diferença. É disso que se trata. 

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Então, represento-me.

Acordo completamente com um estalo. Manhã de pós-Natal. É como se você se desse conta de algo que uma outra parte de você quisesse lhe esconder. Mas, por quê? Por que alimentei estratégias e planos tão bobinhos enquanto o óbvio estava bem na minha frente? Ninguém me escondeu nada. Ninguém me fez esquecer. Fui eu. Eu não me coloquei a par de todos os fatos sobre a minha própria vida. E, se tudo ocorresse bem, eu perderia uma parte de mim. Contraditório, mas real. Eu perderia a melhor parte de mim. Aquela que me liberta, que me estravasa, que me deixa explodir. Se eu deixar de pisar alí, naquele meu santuário particular, não mais me perderei. E é bem ali, quando me perco de mim mesma, que realmente me encontro. E eu simplesmente não teria mais tempo para encontrar a mim mesma. Sete anos. Sete anos desde que realmente conheci a mulher que eu me destinei a ser. E, agora, suposições quase verdadeiras que me colocam longe desta quase estranha já conhecida.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Me censuro.

Não sei porquê. Me censuro para falar de você, para falar de nós para os outros. Sei lá, eu vejo e fico sabendo de tantos casais que a gente bate o olho e já pensa que vão ficar juntos por um longo tempo e, um tempo depois, terminam tudo e postam seus prantos em redes sociais, sendo que já até possuem outros alvos. Eu sei, com todo o meu eu, que não somos assim. E eu juro que não quero que sejamos. Para ser franca, eu vejo a gente como aqueles casais de velhinhos que caminham de mãos dadas até para ir à padaria. Eu resmungando por você me tirar de casa em pleno domingo de manhã só pra ir até a esquina e você rindo da minha cara de brava e me beijando a testa. Nunca foi assim com ninguém. Não desse jeito. De vez em quando, esse sentimento ainda me surpreende. Sabe, depois de algum tempo juntos, a gente se acostuma com as borboletas na barriga, a empolgação e tudo o mais que caracteriza o início de uma relação, e acaba por nem perceber mais essas coisas. Mas hoje mesmo, por exemplo, me peguei pensando em como nem eu mesma tenho a noção do quanto eu preciso de você do meu lado. Essa percepção fica mais forte em dias como este. Incrível como dois dias longe de você parecem uma eternidade. Uma eternidade sem poder sentir teu cheiro, te beijar, te abraçar a cada cinco minutos e reclamar porque, volta e meia, você acaba prestando mais atenção na TV do que em mim. Sim, uma longa eternidade, culpa da ausência. E na ausência você descobre intensidades desconhecidas, porém reconhecíveis do sentimento que se abriga no peito. Eu não sei exatamente o que foi que Deus utilizou quando me deu você de presente, não sei qual a essência que, misturada a esse amor, fez com que ele se fortificasse tanto. Mas eu sei que nada foi em vão. Minha história ao seu lado já começou perfeita. E tudo o que tivemos que enfrentar, por mais que tenha sido destrutivo em algum ponto da nossa trajetória, eu ainda acredito, nos fortificará de algum modo. Eu tive motivos para reconhecer que você é, apesar de tudo, um pedaço de mim. E que eu não posso mais viver sem esse meu pedaço. E o que venho assistido, ao longo de tantos meses, é um menino se transformando no homem da minha vida. Não somos perfeitos um para o outro, mas decidimos ser o melhor que pudermos. Por isso eu te peço que cuide de mim. Porque te amo. Eu te amo. Com todo o meu coração.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Bloqueio.

Sobre mim mesma, sobre as coisas que penso e que deveriam ser expressas. Existe um bloqueio que nunca permite que eu crie um reflexo exato de tudo que me preenche, que me transborda. Só o que consigo é conviver com fragmentos de mim, frutos da falta de intimidade que me acostumei a ter com o meu próprio sentir. Nunca obtive um espelho real das faíscas e turbilhões emotivos que acontecem aqui dentro com alguma forma de expressão. Sei que seria impossível, mas me dilacera o fato de não me enxergar, quase que por inteiro, em algo que eu mesma criei. É o fardo de se ter um coração artista ou, sejamos francos, arteiro. O que sinto e exponho hoje já pode ter me fugido amanhã, e assim por diante. Queria mergulhar mais fundo, queria que esse bloqueio estúpido me deixasse a sós comigo mesma. Só de vez em quando, não faz mal. Pois, com ele, eu acabo me acostumando a sustentar esse contraste entre o que aparento sentir e o que realmente sinto. Vivo entre estes extremos inabaláveis, me corroendo diante das minhas frustrações e encantos e, ao mesmo tempo, não me admitindo demonstrar cinquenta por cento do entusiasmo que sinto ou desabar completamente sob os meus pesares. E tenho necessidade disso. De chorar. De escancarar o riso. De demonstrar mais, não como um papel que me é dado, mas como eu mesma. De me deixar ser. Mas é culpa dele, desse bloqueio que, em algum momento quando comecei a me tornar mulher, assumiu as rédeas das minhas atitudes, pensando ser a fortaleza para mim. O que ele não sabe é que eu preciso da minha menina que tudo inventava e que tudo movia, que fazia tudo acontecer. E ela está aqui dentro ainda, em algum lugar de mim, pedindo que eu a deixe falar, que eu a deixe ser novamente.

domingo, 27 de maio de 2012

Nem precisa dizer...

Eu sei que o que enxergava ontem, já não existe hoje em mim. Tá explícito. Mesmo que eu ainda seja a mesma, a gente querendo ou não, algumas coisas sempre mudam. É, eu me cobrava essa mudança, mas no final das contas ela aconteceu não por necessidade, mas por naturalidade mesmo. A ironia da vida é a prova de que a gente se esforça tanto pra conquistar algumas coisas que julga serem "certas" pra nossa vida, enquanto o que parecia ser o lado errado da questão te vira do avesso e vai diretamente de encaixe à tua essência. Sim, eu sei exatamente aonde quero chegar, mas não encontrei o meu caminho ainda. E não me banalizo por isso, não, muito pelo contrário, estranho seria se eu não tivesse todas essas dúvidas docemente pertubadoras junto de mim, detesto convicções. Tenho muitos lados e tento dar atenção a cada um deles, mesmo que isso me enlouqueça. Eu tive, sim, que aprender a ser tolerante com a ignorância das pessoas ao meu redor e com a minha própria. Nunca fui muito de falar, as palavras nunca conseguiram expressar a imensidão que é aqui dentro, mas agora é diferente. Não é só isso. O meu silêncio vem acompanhado de uma compreensão bem maior sobre tudo, e de uma tentativa de não ferir drasticamente aqueles que amo. Tenho muito ainda pra lidar, eu sei, como a mágoa, o rancor, e todas essas coisinhas corrosivas que existem no lado negativo de quem vive intensamente cada um dos seus sentimentos à flor da pele. Mas tenho ciência disso, e isso já é ótimo. Aprendi a levar a vida com mais leveza, e harmonizar toda essa paranóia rotineira que me acompanha. Sempre me lembro de todas as coisas simples e boas que constituem o meu alicerce. Me irrito facilmente com aquele tipo de pessoa que faz questão de rebaixar os outros, e detesto toda essa futilidade de gente esnobe que acha que todos tem de estar aos seus pés. Não me interesso por qualquer assunto (pois é, sou chata), e acho muitos paradigmas desnecessários. Não me interesso em ser uma cópia feita de antimão e nem uma seguidora do padrão que criaram pra mim, e acho que até as pessoas estão começando a perceber isso. De vez em quando ainda me sinto farta, mas assim como a lua, necessito ter as minhas fases... Tento olhar mais longe e ter uma visão mais ampla, e posso sentir a diferença no meu olhar, na minha voz e no meu comportamento. E a melhor parte de tudo isso? É que ainda é só o começo, ainda há muito mais que PRECISO e VOU aprender. Afinal, estamos em constante mutação... E sim, eu prefiro ser essa metamorfose ambulante.

segunda-feira, 12 de março de 2012

É, verdade...

Dói. E não dói pouco. E o pior é ficar aqui, intacta, inquieta, sem saber o que fazer com toda essa angústia e todo esse ressentimento que foi plantado aqui dentro. Acho mesmo que as dores da alma são as piores. Não se tratam com remédios, antibióticos ou com uma alimentação balanceada. É mais profundo que isso, e eu nunca pensei que fosse tão difícil ignorar tantos pensamentos contraditórios. Faz parte do perdão, mas tem sido difícil. Eu só queria varrer de uma vez só todos esses destroços do meu coração, e junto com eles toda essa dor absurda.